domingo, 29 de dezembro de 2013

O grafeno e seus desafios

     O primeiro centro de estudos dedicado ao grafeno no país vai reunir em São Paulo pesquisadores com experiência reconhecida internacionalmente nesse campo. A Universidade Presbiteriana Mackenzie inaugura em julho de 2014 seu Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno, Nanomateriais e Nanotecnologia (MackGraphe), que terá investimentos de R$ 20 milhões apenas na construção do prédio de 4.230 metros quadrados para abrigar laboratórios no bairro da Consolação, centro de São Paulo. Lá serão conduzidas as pesquisas do projeto temático Grafeno: fotônica e optoeletrônica, uma parceria entre a Universidade Mackenzie e o Centro de Pesquisa de Grafeno da Universidade Nacional de Cingapura, que recebe investimento de R$ 9,8 milhões da FAPESP.
     O projeto, que teve início em abril deste ano, faz parte do programa São Paulo Excellence Chairs (Spec) da Fundação, que busca estabelecer colaborações entre instituições do estado de São Paulo e pesquisadores de alto nível que trabalham fora do país. Nesse programa, o pesquisador segue vinculado a sua instituição de origem e se compromete a coordenar o projeto e a permanecer no Brasil durante pelo menos 12 semanas ao longo de cada um dos cinco anos mínimos de sua duração. Nesse período, ele colabora com pesquisadores da instituição anfitriã na orientação de um grupo de bolsistas da FAPESP, entre pós-doutores, doutores e alunos de iniciação científica. O programa Spec do grafeno é coordenado pelo físico brasileiro Antonio Hélio de Castro Neto, professor da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, e diretor do centro de Cingapura desde 2010.
     Além de discussões quase diárias com os pesquisadores do MackGraphe que se encontram em Cingapura, Castro Neto está em contato semanal com pesquisadores daqui, por meio da internet, com o objetivo de acompanhar o cotidiano da evolução do projeto.
     Entre os objetivos da iniciativa estão a realização da síntese artificial do grafeno, a caracterização do material produzido e a construção de dispositivos optoeletrônicos aplicáveis no setor de comunicações ópticas. “Esperamos que num futuro não muito distante o MackGraphe lidere a pesquisa na área de optoeletrônica do grafeno”, diz Castro Neto, que desde 1991 está nos Estados Unidos, onde fez o doutorado em física na Universidade de Illinois e o pós-doutorado no Instituto de Física Teórica, em Santa Bárbara. Castro Neto foi fundamental para que o MackGraphe saísse do papel. O físico Eunézio Antônio Thoroh de Souza, professor da Universidade Mackenzie e responsável pelo centro, apresentou-o ao reitor da universidade, o engenheiro Benedito Guimarães Aguiar Neto, durante uma viagem à Cingapura. Do encontro, surgiu a ideia de criar no Brasil um centro irmão daquele coordenado pelo professor Castro Neto.
     As pesquisas são feitas provisoriamente em laboratórios de física e engenharia da Universidade Mackenzie, com amostras de grafeno cedidas pela equipe de Castro Neto. Quando o prédio do MackGraphe estiver pronto, os pesquisadores poderão produzir o grafeno – um material flexível, impermeável, extremamente resistente e capaz de conduzir 100 vezes mais eletricidade do que o cobre. Ele foi isolado pela primeira vez em 2004, o que deu aos pesquisadores russos Andre Geim e Konstantin Novoselov, da Universidade de Manchester, o Prêmio Nobel de Física em 2010.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ultrassom não repele mosquitos

     Em 2012, uma campanha bastante inusitada rendeu o primeiro Grand Prix brasileiro, em Cannes, na categoria Rádio.
     A idealizadora da campanha foi a agência Talent, que criou um case para a edição nacional da revista Go Outside, direcionada ao público que gosta de esportes ao ar livre. A campanha focou em um dos principais problemas para tal público: os mosquitos.
     Durante todos os fins de semana do verão 2012, entre 17 horas e 19 horas, a rádio Band FM de São Paulo transmitiu um sinal de alta frequência (15 kHz), a mesma emitida por libélulas, uma predadora natural dos mosquitos. O sinal é praticamente inaudível ao ouvido humano, mas percebido por esses insetos.
     A ideia era que, ao ouvir o sinal, os mosquitos se afastassem da fonte de emissão. Em 15 dias de transmissão, três milhões de aparelhos sintonizaram o sinal. O trabalho ganhou destaque na premiação pela criatividade de uso do meio.
     O único problema é que os cientistas o chamaram de “completa baboseira”.
     Como golpe publicitário, é muito convincente, de fato. Nada de repelentes, sprays, raquetes: tudo o que você precisa fazer é ouvir a Band FM.
     O problema aqui, de acordo com o entomologista Bart Knols, é que não há “nenhuma evidência científica” de que o ultrassom repele mosquitos.
     O equívoco de que mosquitos podem ser detidos por ultrassom tem rodado por quase 40 anos: pelo menos uma revisão científica de um repelente eletrônico foi publicada em 1974.
     Uma revisão de 10 estudos feita em 2010 concluiu que dispositivos ultrassônicos “não têm efeito na prevenção de picadas de mosquito”, e “não devem ser recomendados ou usados”. Isso porque podem levar a uma falsa ideia de proteção e, em países onde mosquitos transmitem malária, dengue, entre outras doenças, pode ser potencialmente perigoso para aqueles que estão achando que ouvir tal programa na rádio os deixa seguros.
     A revisão feita por diversos cientistas ainda alerta que sequer vale a pena estudar mais o assunto. É definitivo: ultrassom não repele mosquito.


     A campanha da Band FM foi baseada em um sinal de alta frequência de 15 kHz, emitido por libélulas, predadoras dos mosquitos. Na verdade, diz Knols, libélulas têm uma frequência de batimento de asa de entre 20 e 170 Hz, muito mais baixa do que 15 kHz. Ainda assim, esta frequência mais baixa é igualmente inútil em afastar mosquitos ou impedi-los de lhe morder.
     A Band FM não foi a primeira estação a transmitir frequências supostamente repelentes de mosquito, mas a ideia (felizmente) não pegou. Muito mais comuns, no entanto, são aparelhos eletrônicos de ultrassom, comercializados como repelentes em muitos países.
     Em 2005, a revista britânica “Holiday Which?” testou uma série de repelentes eletrônicos de mosquitos. Os quatro aparelhos testados foram descritos como “um desperdício de dinheiro” e foi dito que “deveriam ser retirados” das prateleiras.

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