segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Por que as "zebras" são comuns no Campeonato Brasileiro de Futebol?

     Antes do início da edição atual do Campeonato Brasileiro de Futebol (Brasileirão), no final de maio, grande parte dos comentaristas esportivos apontava como favoritos ao título os times do Atlético Mineiro, do Corinthians e do Internacional, pela quantidade superior de bons jogadores que haviam contratado. O Cruzeiro também havia ganhado reforços, mas muitos não esperavam que no fim de setembro a raposa mineira fosse a líder do Brasileirão, seguida na classificação por Grêmio, Atlético Paranaense e Botafogo. A diferença de pontos entre os primeiros colocados, porém, é pequena. Tudo pode mudar até o final do torneio, em dezembro.
     “Sabemos que nem sempre o melhor time ganha”, diz o físico Roberto da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “No futebol há um grau de aleatoriedade muito alto.” Com a ajuda de colegas da UFRGS, Silva criou um modelo computacional que gera campeonatos virtuais com propriedades estatísticas idênticas àquelas das pontuações de campeonatos nacionais disputados por pontos corridos, como o brasileiro, o espanhol e o italiano. Seus resultados, publicados este ano na Computer Physics Communications e na Physical Review E, sugerem que as diferenças entre as habilidades dos times são importantes, mas que o que domina a dinâmica do futebol é mesmo a aleatoriedade, a tal "caixinha de surpresas".



     “Procurei na física um fenômeno aleatório que fosse similar”, Silva explica. Um dos processos aleatórios mais simples que existem é a difusão das moléculas de um soluto em um solvente, como acontece quando uma pitada de açúcar se dissolve num copo d’água. Silva tentou descrever a evolução das pontuações dos times com as mesmas equações que representam o movimento das moléculas na difusão. Nesse primeiro modelo, cada time seria uma molécula. O deslocamento de cada molécula corresponderia ao avanço das equipes ao longo do campeonato, que podia se dar por três tipos de passo: derrota, empate ou vitória.
     Não funcionou muito bem. Silva notou que a diferença entre as pontuações dos times tendia a aumentar mais rápido do que o projetado pelo modelo de difusão simples. Na verdade, a evolução dos pontos tinha as características daquilo que os físicos conhecem como superdifusão. Era o sinal de que a premissa do modelo simples, de que o desempenho dos times permanecia constante ao longo do campeonato, não se ajustava à realidade. “A superdifusão acontece quando as probabilidades de ganhar e perder se alteram ao longo do tempo”, explica. “Os times mudam: jogadores se machucam, novos jogadores são contratados e técnicos são demitidos.”
     Num domingo, jogando videogame com o filho de 8 anos, Silva pensou em um modo de incorporar essas mudanças ao seu modelo. Como em um videogame de futebol, os times do modelo de Silva agora teriam um número que mediria a habilidade do grupo, ou seja, o seu potencial de ganhar uma partida. Os resultados dos jogos continuavam a ser decididos aleatoriamente, mas a probabilidade de uma equipe ganhar ou perder passou a depender dos potenciais de ambos os times. Assim, o vencedor de uma partida aumentava seu potencial, enquanto o do perdedor diminuía. No empate, os potenciais dos times permaneciam constantes.
Com esse ajuste, o modelo funcionou melhor. Simulou com precisão a estatística acumulada de cinco campeonatos seguidos, mas apenas para o caso brasileiro. A pontuação dos torneios virtuais não batia com as dos campeonatos europeus, em especial do espanhol e do italiano.
     Não foi difícil achar a explicação. O modelo assumia que todos os times começavam o campeonato com o mesmo potencial de vencer os jogos. Desde 2003, seis times já conquistaram o Brasileirão. Apesar de sempre haver favoritos, nenhum time nacional se destaca dos outros por muito tempo, por causa da habitual venda de craques para o exterior. Na Espanha é diferente. Os dois melhores times – Barcelona e Real Madrid – têm uma média de gols por partida muito superior à das demais equipes e quase sempre Real Madrid ou Barça é campeão. O mesmo acontece na Itália, com Juventus, Milan e Internazionale. O modelo só funcionou para todos os países quando Silva incluiu essa diferença inicial, ajustando os potenciais dos times a partir da média de gols por partida de cada equipe no campeonato anterior.
     O físico Haroldo Ribeiro, da Universidade Estadual de Maringá, também vem observando a superdifusão em suas análises de partidas de futebol, críquete e xadrez. “Ainda há muito o que investigar”, diz. “Podemos responder questões que os fãs dos esportes se perguntam ou justificar afirmações que muitas vezes eles fazem sem base científica.”

Leia mais em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/10/17/por-que-as-zebras-sao-comuns-no-brasileirao/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Translate